De acordo com a Organização das Nações
Unidas (ONU), a população negra apresenta os piores indicadores de
saúde se comparadas aos brancos. Infecções sexualmente
transmissíveis, mortalidade de recém-nascidos antes dos seis dias
de vida, hanseníase, mortes maternas e tuberculose são alguns
problemas de saúde evitáveis mais frequentes nessa parcela da
sociedade.
Isso acontece porque a população negra
vive com menos qualidade, conforme explica Lúcia Xavier,
coordenadora da organização de mulheres negras Criola.
“O grupo é mais vulnerável a doenças
porque está sob maior influência dos determinantes sociais de
saúde, ou seja, as condições em que uma pessoa vive e trabalha, a
insalubridade, as baixas condições sanitárias às quais está
submetida, por exemplo. A soma desses indicadores de
vulnerabilidade aumenta o risco de perder a vida”,
comenta.
Segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em 2014, os negros (pretos e
pardos) eram a maioria da população no país, representando 53,6%
dos brasileiros. Atualmente, 80% da população cujo plano de saúde é
exclusivamente o Sistema Único de Saúde (SUS) é negra. Segundo a
Pesquisa Nacional de Saúde (2015), das pessoas que já se sentiram
discriminadas por médicos ou outros profissionais de saúde,
13,6% destacam o viés racial da discriminação.
“Estudos mostram que o racismo não é
uma questão vinculada especificamente ao SUS. Na rede privada, o
racismo também está presente. A diferença nas taxas de mortalidade
hospitalar é uma evidência”, salienta.
Segundo o Ministério da Saúde, os
óbitos por Aids em 2016 afetam mais negros (58,7%) que brancos
(40,9%). Das mulheres gestantes diagnosticadas com sífilis, 59,8%
eram negras e 30,6% brancas. No mesmo ano, 38,5% das notificações
de sífilis adquirida ocorreram entre pessoas brancas e 42,4% em
negras.
A hanseníase, doença infecciosa
causada por bactéria cuja transmissão está relacionada a condições
precárias de moradia e higiene, em 2014, teve 31.064 casos
notificados, mais de dois terços na população negra. Nos registros
de tuberculose, no mesmo ano, 57,5% das pessoas que apresentaram a
doença eram negras.
Fernanda Lopes, representante auxiliar
do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, destaca
que doenças não são obras do acaso. “A condição de saúde é
determinada por fatores econômicos, políticos, sociais, culturais e
ambientais. Para se alcançar o estado de bem-estar, é preciso
investimentos diversos dentro e fora do serviço de saúde. Se o
racismo não for reconhecido e enfrentado, a juventude negra estará
sempre vivenciando maior risco de adoecimento e morte”,
conclui.
Em setembro do ano passado, a
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) recomendou, na
Conferência Sanitária das Américas, que os países-membros promovam
políticas públicas capazes de abordar o fator étnico como
determinante social da saúde.