A Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) iniciou na terça-feira (8) consulta pública para
receber sugestões e contribuições da sociedade sobre nova norma que
pretende tornar mais eficiente o sistema de fiscalização do setor,
com reflexos positivos para os beneficiários de planos de saúde. As
sugestões poderão começar a ser enviadas para a ANS a partir do
próximo dia 15, por meio de formulário eletrônico disponível no
portal da agência, durante o prazo de 30 dias.
Após prazo consulta pública, a ANS vai
analisar as sugestões e ver se alguma pode ser acrescentada ou
alterar a nova norma. Depois vai para o colegiado da agência
aprovar e depois vai para publicação, quando começa a valer.
De acordo com a diretora de
Fiscalização da ANS, Simone Sanches Freire, com a nova norma, a
instituição está “mudando a forma de fiscalizar”. Embora vá
continuar apurando as reclamações de cada beneficiário e
penalizando a conduta de cada operadora, a ANS vai passar a medir
as operadoras duas vezes por ano, de acordo com o desempenho delas
frente os beneficiários.
A ANS desenvolveu e aprimorou um
indicador para medir a conduta da operadora em relação aos seus
clientes. “A partir desse desempenho dela é que a gente vai tratar
a penalidade”. A agência mexeu nas principais infrações que
acontecem, que são mais recorrentes e se referem à cobertura
assistencial, que envolve exames, internações, consultas,
ressonância e cirurgias, e também em relação a reajuste que, embora
seja sazonal, engloba muitas reclamações de erro a cada ano. “A ANS
mexeu nessas duas infrações para que elas sejam mais próximas do
dano que é de fato causado às pessoas”, afirmou Simone.
Multa dobrada
Também em termos de valor da
penalidade houve alteração na nova norma. Atualmente, a agência
trabalha com valor fixo de R$ 80 mil para qualquer procedimento que
é negado. Agora, há quatro tipos de negativas de cobertura e para
cada uma delas foi fixado um valor de multa, para que não sejam
cometidas injustiças, uma vez que há reclamações para um simples
hemograma e outras queixas para cirurgias com prótese, por exemplo.
“A gente tentou calibrar um pouco isso”.
Na nova proposta, a multa vai de R$ 20
mil até R$ 160 mil. “Ela vai dobrando. Isso tudo se não for
urgência e emergência, porque essas são penalizadas individualmente
com R$ 250 mil. Isso não mudou”. Em relação à urgência e
emergência, Simone acrescentou que em caso de morte do
beneficiário, a multa será cobrada em dobro.
Para atendimento ambulatorial e exame
simples, a multa será de R$ 20 mil; R$ 40 mil são relacionados a
consultas; o valor sobe para R$ 80 mil para demais procedimentos
ambulatoriais, entre os quais ressonância e ultrassom; e para R$
160 mil quando há reclamações relativas a internações eletivas. A
nova norma estabelece também que passa a ser considerada
circunstância agravante de penalidade a infração ocorrida em
detrimento de menor de 18 anos, maior de 60 anos ou de pessoa com
deficiência física, mental ou sensorial. “São mais vulneráveis e a
gente tem que fazer o possível para que eles não sejam vítimas de
uma infração”.
Prazo menor
A expectativa da ANS é que o novo
sistema de fiscalização venha reduzir o prazo máximo de duração dos
processos. Simone Freire lembrou que quando assumiu a diretoria, em
2014, os processos chegavam a durar 2.800 dias e hoje duram 255
dias. A ideia agora é reduzir esse prazo para o máximo de 180 dias,
em consonância com o que estipulam as agências reguladoras.
A necessidade de aprimoramento da
norma atendeu ao crescimento do número de reclamações de
beneficiários de planos de saúde recebidas pela ANS, que chega a
100 mil por ano. Esse número apresentou flutuação de 10% para cima
ou para baixo nos últimos três anos, informou a diretora. “Mesmo
acelerando o processo de cobrança de multa, a gente não observa uma
adesão do mercado à sanção.”, disse Simone. Ela esclareceu que a
agência não está atrás de “fazer caixa” com as multas aplicadas. “O
que a gente quer é mudar a conduta da operadora. Se a gente está
penalizando na velocidade que foi em 2016, que registrou mais de R$
1 bilhão em multas aplicadas, e a conduta não muda, é sinal que
temos que aprimorar o que estamos fazendo”.
Para rever o sistema de fiscalização,
foi instituído grupo de trabalho integrado por representantes de
órgãos de defesa do consumidor, Ministério Público Estadual do Rio
de Janeiro, Defensoria Pública, representantes de operadoras de
planos de saúde e de entidades médicas para discutir quais eram os
grandes entraves e colocar para uma discussão mais ampla com a
sociedade, para ver se o novo sistema se aproxima do que a ANS
quer.