Após o aumento da procura desde a
deflagração de operações da PF, modalidade ganha alterações que
aprimoram as normas e as tornam mais claras
Os seguros D&O (Directors and
Officers, em inglês), ganharam novas regras no mês passado. Criado
para amparar executivos de uma empresa em eventuais ações judiciais
que eles sofram por atos cometidos durante sua gestão, essa
modalidade de seguro agora tem regras mais claras e específicas
que, segundo especialistas, ajudam a aprimorar um mercado que exige
cuidados.
A principal alteração estabelece que,
a partir de agora, o seguro D&O pode ser contratado por pessoas
físicas – quando o próprio executivo sabe dos riscos de seu cargo e
quer se proteger. Anteriormente, com a publicação da circular nº
541/2016, do ano passado, essa possibilidade havia sido vetada.
Além disso, o seguro também passará a
cobrir multas e penalidades que os segurados venham a pagar. Também
fará parte da cobertura básica os custos de defesa, os gastos do
executivo com advogados e procedimentos jurídicos. A resolução
anterior apontava que esse tipo de despesa seria considerada
acessória, não mais essencial e disponível apenas em planos de
maior cobertura.
As alterações foram acertadas após
três reuniões com representantes da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg),
Superintendência de Seguros Privados (Susep) e da Federação
Nacional das Resseguradoras (Fenaber), responsáveis pela modalidade
de seguro.
Na avaliação de Felipe Bastos,
advogado e sócio da área de Seguros e Resseguros do Veirano
Advogados, as mudanças são positivas para o mercado, já que tornam
as regras mais claras para o contratante e, assim, protegem melhor
os direitos do segurado.
“O balanço que fazemos é de que a nova
circular é muito mais equilibrada e compatível com as práticas mais
consolidadas”, afirma o advogado.
Corrupção
Segundo dados da Susep, a contratação
da modalidade D&O teve um aumento de quase 60% entre 2014, ano
em que a Operação Lava Jato foi deflagrada, e 2016. No entanto, o
seguro só pode ser usado em situações culposas, quando o executivo
não teve a intenção de cometer um ato ilícito ou passível de
processo judicial.
“A ação pode alegar uma conduta
dolosa, mas enquanto alegação, o segurado tem direito à defesa.
Quem diz que o ato foi doloso ou não é o juiz ou o próprio segurado
confesso que assume o dolo da conduta. Mas nesse caso, a seguradora
tem direito de regresso, o dinheiro tem que ser devolvido quando o
executivo é condenado por dolo”, explica a gerente de Placement da
Marsh Brasil, empresa de gestão de riscos e seguros, Juliana
Casiradzi.
O custo do seguro D&O pode variar
bastante, de acordo com o perfil das companhias e também dos
executivos segurados, além dos itens da cobertura. Uma apólice
básica para pequenas empresas está avaliada em R$ 5 mil, mas pode
chegar a R$ 10 milhões no caso de negócios com capital aberto nos
Estados Unidos.
Estima-se que para um limite de
garantia de R$ 100 milhões, as seguradoras cobrem prêmios que
variam entre R$ 300 mil e 550 mil.
Além da variação dos preços, Juliana
Casiradzi explica que, para se protegerem, algumas seguradoras já
colocam cláusulas que excluem a apólice quando foram cometidos atos
de corrupção ou contra a administração pública.
“Com aumento grande de reclamações
contra executivos, seguradoras têm feito isso em algumas empresas.
As apólices foram renovadas com essa exclusão”, afirma. Ela ainda
conta que a contratada pode excluir totalmente ou reembolsar o
custo de defesa caso o acusado seja absolvido.
De acordo com o advogado Felipe
Bastos, as restrições tornaram-se mais comuns nos últimos anos,
reflexo dos escândalos envolvendo grandes companhias. Alguns
exemplos são limite máximo de indenização, restrições de valores na
cobertura e inclusão de franquia.
“O âmbito de abrangência das apólices
está melhor delimitado, com as seguradoras tomando algumas
precauções que antes não tinham. As reclamações relacionadas à
corrupção podem tornar esse negócio menos rentável, por isso o
cuidado”, analisa.
Temendo os desdobramentos da Operação
Lava Jato, algumas companhias de seguros adotaram uma “lista negra”
de executivos que não podem estar presentes nas apólices de seguro,
tamanho o risco de seus nomes surgirem nas denúncias de
corrupção.
“O atual cenário político-econômico,
com aumento exponencial das investigações, nos faz afirmar que
estamos atuando em um ‘hard market’. As seguradoras se viram
obrigadas a reavaliar sua atuação”, analisa Bastos.