Em um momento de baixa dos ciclos
das grandes obras de infraestrutura no país, as seguradoras
encontram outro filão para manter seus negócios aquecidos: o
seguro-garantia judicial. É um mercado com potencial estimado em R$
100 bilhões anuais por demandas na Justiça, segundo cálculos do
BTG, que englobam demandas nas áreas civil, trabalhista e
tributária em todas as esferas do Judiciário.
Até pouco tempo atrás, esse
segmento era atendido pelas instituições financeiras por meio de
fiança bancária. Mas, agora, as companhias de seguro estão entrando
com gana nessa disputa.
Dados da Superintendência de
Seguros Privados (Susep) mostram que, no primeiro trimestre do ano,
o volume de prêmios emitidos em seguro-garantia foi de R$ 333,5
milhões, dos quais cerca de 70% voltados a questões judiciais.
Rodrigo Loureiro, diretor de garantia da corretora Willis, estima
que, até o fim deste ano, o volume de receitas nesse ramo atinja R$
1 bilhão.
“É um segmento em franca expansão
que, em quatro anos, pode tomar o lugar da fiança bancária”, estima
André Gregori, presidente da seguradora e resseguradora do BTG
Bactual.
Além disso, o produto deve se
manter como fonte de receitas mesmo com a retomada dos projetos de
obras.
Segundo Gregori, desde o ano
passado, o próprio banco iniciou movimento de migração para a
seguradora nesse segmento. Hoje 100% do negócio de fiança do BTG
Pactual é feito pela companhia por meio do seguro-garantia. O
executivo afirma que, do total de prêmios negociados pela
seguradora, 40% estão vinculados à modalidade.
A paranaense JMalucelli Seguradora
também viu no seguro-garantia judicial boa chance para os seus
negócios neste momento. Com foco no mercado de grandes
empreendimentos, a empresa atende companhias que atuam em
concessões rodoviárias, energia e empreendimentos imobiliários. “O
que tem compensado a situação econômica atual é o forte crescimento
do mercado de garantias judiciais”, afirma Gustavo Henrich,
vice-presidente da empresa. Ele estima que, atualmente, esse tipo
de apólice represente mais do que 50% da totalidade de prêmios
produzidos pelo mercado de seguro-garantia.
Do lado da demanda, diz Loureiro,
da Willis, as empresas com ações na Justiça têm buscado o seguro
para redução de seus custos. Segundo Gregori, esse é um segmento
estável e com previsibilidade. “Você consegue olhar para frente e
saber que sempre haverá execução judicial”. Sua aposta é no campo
tributário, onde os valores das ações são bem mais elevados e não
existe a possibilidade de questionar quaisquer casos na Justiça sem
depositar garantias. “São casos de bilhões aos borbotões.”
Segundo Fernando Mourão, do
escritório Braga & Moreno Consultores e Advogados, a brecha que
proporcionou a arremetida das seguradoras foi aberta pela Lei
13.043/14, que alterou, em novembro, a Lei de Execuções Fiscais
(LEF) Permitiu o uso de apólices de seguro-garantia como caução de
dívidas ativas e federais, estaduais e municipais. Assim, essa
modalidade passou a produzir os mesmos efeitos do depósito judicial
e da fiança bancária. Na fase de execução, o seguro-garantia pode
entrar no lugar da penhora, inclusive a on-line. A entrada em vigor
do novo Código de Processo Civil (CPC), em março do próximo ano,
iguala o uso do seguro aos depósitos em dinheiro, o que deve
impulsionar ainda mais o mercado segurador.
“Com a ampla aceitação das apólices
pela Justiça, o produto, que movimenta aproximadamente R$ 600
milhões em valor de prêmio por ano e corresponde a 60% do mercado,
tem potencial para, pelo menos, dobrar nos próximos dois anos”, diz
o presidente Austral Seguradora, Carlos Frederico Ferreira. O
executivo enfatiza que esse é um braço do negócio de seguros que
seguirá independentemente do ciclo de investimentos em
infraestrutura.
Mourão, do Braga & Moreno, diz que
a garantia judicial beneficia empresas de todos os portes, pois tem
taxas atraentes, não imobiliza o patrimônio e não afeta as linhas
de crédito bancário. Pode ser usado por aquelas sem recursos
suficientes para fazer um depósito judicial, gerando um menor custo
e sem comprometer o patrimônio. O advogado estima que,
gradualmente, haverá uma substituição da fiança bancária.