Operação, que marca a
reabertura das ofertas iniciais de ações na bolsa brasileira,
despertou o apetite dos investidores, fazendo com que a demanda por
papéis da Par Corretora atingisse os R$ 5 bi; estreia está prevista
para o dia 5 de junho
A corretora de seguros da Caixa
Econômica Federal vai estrear no pregão da BM&FBovespa na
próxima sexta-feira, reabrindo as ofertas de capital na bolsa
brasileira, depois de um período de seca que durou sete meses. A
operação chama a atenção não só por ser a primeira do ano, mas por
ter despertado fortemente o interesse dos investidores. A demanda
pela oferta pública inicial da Par Corretora chegou a R$ 5 bilhões,
fazendo a empresa elevar o teto estipulado para compra da ação de
R$ 11,60 para R$ 12,35, segundo apurou o Broadcast, serviço em
tempo real da Agência Estado.
Com isso, a oferta inicial (IPO, na
sigla em inglês) da companhia, que tem entre os sócios a Caixa e a
GP Investimentos, pode ultrapassar os R$ 600 milhões, considerando
o lote suplementar, correspondente a 10% do principal. O intervalo
de preço inicialmente proposto ia de R$ 11,25 a R$ 11,60.
A demanda em torno de dez vezes a
prevista inicialmente foi impulsionada, conforme fonte a par do
assunto, não só pelo interesse do mercado, mas, principalmente,
pelo fato de três investidores internacionais, não mencionados no
prospecto, já terem indicado intenção em comprar cerca de 70% do
IPO. “É um negócio de serviços, com geração de caixa, que paga
dividendo e não está muito exposto à crise. A demanda surpreendeu”,
diz a fonte.
Nesta segunda-feira, ao longo do
dia, os bancos que assessoram a operação tentaram negociar com a
gestora de recursos Gávea, do ex-presidente do Banco Central
Armínio Fraga, para mudar o teto da faixa de preço. De acordo com o
prospecto preliminar, a Gávea tinha se comprometido a “ancorar” a
operação, comprando um valor equivalente a R$ 140 milhões. Se a
precificação ficasse fora da faixa de preço indicada, a gestora não
teria obrigação de realizar o investimento privado. Como os bancos
e Gávea não chegaram a um acordo, o fundo não deve mais ancorar a
abertura de capital. Procurada, a gestora não comentou o assunto
até o fechamento da edição.
O segmento almejado pela Par
Corretora é o Novo Mercado, de mais alto nível de governança
corporativa da BM&FBovespa. Os coordenadores da oferta da Par
são o Bradesco BBI, como líder, JPMorgan, BTG Pactual, Credit
Suisse e Itaú BBA.
Os acionistas vendedores serão a
Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica
Federal, que possui 21,35% da Par; a Évora Fundo de Investimento em
Participações (3,65%); e a Algarve, da GP Investimentos (17,70%).
Após a oferta, independentemente da execução do lote suplementar, a
Federação sairá da Par Corretora, enquanto a Évora reduzirá sua
fatia para 1,79% e a Algarve, para 13,01%, em ambas as situações em
considerar o lote extra. A Caixa não diminuirá sua participação, de
25% via Caixa Seguros e de 26% por meio da Par Participações.
Potencial. A expectativa é de que os papéis devem disparar em seu
pregão de estreia, principalmente porque a empresa está inserida em
um setor com potencial de crescimento. Apesar da economia fraca, o
segmento de seguros registrou expansão de 22,4% no primeiro
trimestre ante o mesmo período do ano anterior, totalizando R$ 42,5
bilhões em receitas, segundo dados da Superintendência de Seguros
Privados (Susep).
Além disso, também soma a favor o
fato de a Par Corretora ter exclusividade de explorar o balcão da
Caixa Econômica Federal para vender seguros. Ao ter acesso ao
balcão da Caixa, a empresa tem à disposição 78,3 milhões de
clientes, sendo mais de 2,1 milhões de clientes pessoas jurídicas,
conforme dados de dezembro, e acesso a 3.391 agências do banco,
13.250 agências lotéricas e 18.211 correspondentes bancários. No
primeiro trimestre, a Par Corretora viu seu lucro crescer 85% na
comparação com o mesmo período do ano anterior, ultrapassando mais
de R$ 30 milhões no período. Seu patrimônio líquido era de R$ 114,1
milhões ao fim de março.
A operação da Par Corretora deve
preparar o terreno para a esperada oferta bilionária da Caixa
Seguros. Antes disso, o ressegurador IRB Brasil Re deve testar o
apetite do mercado com uma abertura de capital de R$ 3,5 bilhões a
R$ 4 bilhões, último passo para sua privatização. A bolsa
brasileira não emplaca IPOs desde outubro do ano passado, quando a
Ouro Fino, que atua no segmento de saúde animal.
Desistência. A Azul Linhas Aéreas
vai ter de esperar mais um pouco para realizar sua oferta pública
inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). Conforme informações da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia desistiu de sua
terceira tentativa, em menos de dois anos, de abrir seu capital.
Fontes próximas à empresa reiteraram que ela seguirá atenta às
condições de mercado para realizar a emissão, possivelmente ainda
em 2015. A oferta da Azul é estimada em R$ 1 bilhão. Além da
listagem na BM&FBovespa, a Azul pretendia fazer a oferta no
exterior, com a emissão de ADRs. / COLABOROU LUCIANA COLLET