Estudo da Ensp/Fiocruz mostrou que, entre
unidades do Rio de Janeiro, apenas uma cumpria atividades de
gerenciamento e programação
Com o
intuito de avaliar os serviços de farmácia de seis hospitais
estaduais do Rio de Janeiro, as pesquisadoras do Núcleo de
Assistência Farmacêutica da Escola Nacional de Saúde Pública
(Ensp/Fiocruz) Cláudia Garcia Serpa Osório-de-Castro e Maria
Auxiliadora Oliveira, em parceira com pesquisadores do Instituto
Nacional do Câncer (Inca) e da Faculdade de Farmácia da UFF,
realizaram uma pesquisa. O resultado demonstra que o armazenamento
é atualmente um dos piores problemas destes locais.
O serviço de farmácia hospitalar é
responsável por diversas atividades com forte impacto na
assistência à saúde. As variadas necessidades dos pacientes
requerem que as mesmas desempenhem uma série de atividades de modo
organizado. As funções do farmacêutico hospitalar, por sua vez,
exigem comprometimento com os resultados dos seus serviços e não
somente com o fornecimento de medicamentos.
Publicado na Revista
Ciência e Saúde Coletiva, o artigo Avaliação dos serviços de
farmácia dos hospitais estaduais do Rio de Janeiro,
Brasil analisou 62 indicadores de estrutura e processo que
possibilitaram verificar à adequação das atividades de farmácia
hospitalar. Os serviços oferecidos foram estratificados por nível
de complexidade do hospital e em cada estrato foi aplicado um
algoritmo de pontuação escalonada de acordo com as atividades
executadas. A partir disso, os hospitais foram hierarquizados em
cada estrato, sendo escolhidos para o estudo de casos múltiplos, o
pior e o melhor serviço de cada nível de complexidade.
De acordo com as autoras, foram
aplicados 16 indicadores de resultados e os dados foram analisados
por síntese de casos cruzados. A avaliação do desempenho mostrou
que apenas uma unidade cumpria, a contento, as atividades de
gerenciamento e programação. Quatro realizavam inadequadamente a
aquisição de medicamentos. Os piores resultados de desempenho, nos
seis hospitais estudados, estavam relacionados ao componente
armazenamento; e os melhores à atividade de distribuição. Para as
autoras, os dados são preocupantes, por serem as atividades
consideradas centrais da farmácia hospitalar.
Situação
Segundo dados da pesquisa, entre os
vinte hospitais estaduais visitados, oito eram especializados
(40%), quatro gerais (20%) e oito de emergência (40%). Em quinze
unidades (78,9%), a farmácia encontrava-se representada como órgão,
divisão, departamento, serviço, setor ou seção responsável pelos
medicamentos. Em três, a farmácia estava vinculada à área
administrativa ou de suprimentos, enquanto nos demais encontrava-se
hierarquicamente ligada à área clínica.
Os serviços de farmácia funcionavam,
em média, 18 horas diariamente, podendo variar de 12h a um plantão
ininterrupto de 24h. Os farmacêuticos estavam presentes durante
todo o período de funcionamento em todas as unidades estudadas, com
uma média de dez profissionais por hospital. A relação
farmacêutico/leito foi de um profissional para cada 15
leitos.
O gerenciamento era desenvolvido em
todos os serviços avaliados, porém a grande maioria (16 dos 20
visitados) cumpria menos de 50% dos indicadores propostos. Em duas
era realizado planejamento de objetivos e metas. “Apenas uma
farmácia cumpria 75% dos indicadores relacionados ao componente
seleção. Uma unidade, embora não apresentasse relação própria de
medicamentos essenciais, possuía protocolos terapêuticos para o uso
de alguns medicamentos”, descreveram as autoras.
Das vinte farmácias avaliadas, foram
selecionadas três que apresentaram os melhores serviços e três que
apresentaram os piores. Segundo o artigo, todos os casos estudados
desenvolviam gerenciamento, programação, aquisição e distribuição.
O armazenamento era executado por empresa terceirizada e todas as
seis unidades afirmaram utilizar a Lista de Medicamentos Essenciais
(LME) do Estado para orientar a solicitação das compras.
Dificuldades
Para as autoras do artigo, as
dificuldades apresentadas pelas farmácias hospitalares do Estado do
Rio de Janeiro são compartilhadas por outras de todo o Brasil. No
entanto, as limitações encontradas, especificamente em relação aos
resultados de estrutura e processo, quase dez anos após o estudo
nacional que forneceu linha-base para as atividades discutidas,
mostram que o panorama parece não ter apresentado mudanças, pelo
menos no âmbito do estado, requerendo posicionamento e
enfrentamento das instâncias de gestão envolvidas.
“Frente ao estado da arte, este
estudo é inovador, sendo o primeiro a integralizar um modelo
completo de avaliação da farmácia hospitalar, baseado em exame de
estrutura, processo e resultado, aplicando-o a um importante
conjunto de hospitais no país. O trabalho permite que as falhas
apontadas, bem como as fortalezas dos serviços estudados, sejam
exploradas pelos gestores das unidades e de modo global, pelo
gestor estadual. Espera-se que esta avaliação possa contribuir para
a melhoria da qualidade dos serviços prestados aos usuários da rede
de farmácias hospitalares do Estado do Rio de Janeiro, indicando
caminhos para a tomada de decisão e para a gestão”, destacaram as
autoras.