Se os
acidentes de trânsito no Brasil já eram preocupantes, agora são
alarmantes. Em 2013, a seguradora Líder-DPVAT pagou mais de 633 mil
indenizações, registrando um aumento de 25% em relação a 2012. O volume de
indenizações foi superior a R$ 3,2 bilhões em todo o país. O estudo
da seguradora foi apresentado à imprensa, na
última terça-feira, 11 de
fevereiro, pelo diretor-presidente Ricardo Xavier, que comemorou a
queda nas indenizações por morte, de 60.752 em 2012 para 54.767 em
2013, ao mesmo tempo em
que lamentou o crescimento dos casos de invalidez permanente. Em
2013, foram indenizados 444.206 casos de invalidez permanente
contra 352.495 no ano anterior.
Apesar da queda no número de acidentes fatais, a
perda de mais de 54 mil vidas merece mais atenção da sociedade e do
governo, na opinião de Xavier. Ele recorreu
a comparativos para
dimensionar o tamanho da tragédia urbana. As mortes no trânsito
equivalem à queda de 22 aeronaves por mês; a mais de 28 anos de
morte por hepatite; a mais de 45 anos de morte por dengue; e a 525 anos
de morte por H1N1. “Como os dados de acidentes são pulverizados, a
sociedade não se comove. Mas deveríamos debater
o assunto todos os dias
para conscientizar a sociedade”, disse.
Os
dados de indenizações pagas pelo seguro DPVAT ajudam a traçar o
perfil das vítimas e dos acidentes. A maior parte das indenizações
foi paga a homens (75%), mais da metade (50,9%) na faixa etária entre 18 e 34
anos, a maioria motoristas (60%). O estudo aponta que 71% das
indenizações foram para acidentes envolvendo
motocicletas, que
causaram a invalidez permanente em 77% dos casos.
Na
distribuição regional das indenizações por morte, o Sudeste, que
representa 56% da frota nacional de automóveis, concentra a maior
incidência (37%). No Nordeste, as motocicletas representam 44% da frota de veículos
e respondem por 34% das indenizações pagas por invalidez
permanente. Na região, o Piauí é o estado recordista
em indenizações por
acidente com motocicletas, com 67%.
No
total de acidentes com motocicleta em 2013, chama a atenção o
horário que concentra a maioria dos casos: entre 17h e 19h59.
Segundo o estudo da seguradora Líder, é nesse período que os motociclistas não
profissionais, que usam as motos para se deslocarem ao trabalho,
estão voltando para casa. “Os motociclistas profissionais
se envolvem menos em
acidentes”, disse Xavier.
As multas e a redução de
acidentes
O
deputado Hugo Leal (PROS-RJ), autor da Lei Seca, que participou da
apresentação do estudo da seguradora Líder-DPVAT, comentou sobre os
benefícios da lei, que desde 2008 ajuda a reduzir as mortes no trânsito, mas
alertou para o aumento número de acidentes com motos. Como membro
na Câmara dos Deputados da Comissão de Viação
e Transporte e da Frente
Parlamentar do Trânsito Seguro, ele disse que a habilitação é a
principal questão em debate.
A
intenção dos parlamentares, segundo Hugo Leal, é produzir uma Lei
de Diretrizes Básicas (LDB) da formação do condutor, com foco na
motocicleta. “A LDB pretende eliminar o conceito de que basta a habilitação.
Uma coisa é estar habilitado, outra é estar preparado para
enfrentar o trânsito. A formação é deficiente e o
resultado é o desastre
que estamos vendo hoje”, disse. Para o deputado, as auto-escolas
deveriam se estruturar como Centros de Formação de Condutores (CFC)
para ensinar aos motociclistas, por exemplo, a frear e a sair de
situações de perigo.
Na
visão de Hugo Leal, os órgãos de trânsito, como Denatran e Contran,
editam uma série de medidas que não têm efeito prático. Falta no
país, a seu ver, uma entidade nacional que cuide especificamente da redução de
acidentes de trânsito. Ele citou Argentina e Uruguai, como exemplos
de países mais próximos que adotaram
políticas macro de
redução de acidentes, obtendo bons resultados.
Segundo o parlamentar, um projeto de lei que já
foi aprovados em algumas comissões da Câmara, prevê mais
responsabilidades aos órgãos de trânsito estaduais
e municipais, como Detran
e Companhia de Engenharia de Tráfego, na diminuição de acidentes. O
projeto prevê a penalização aos agentes públicos que não
apresentarem dados estatísticos recentes sobre a redução de
acidentes de trânsito proporcionais ao volume de multas aplicado. O
município que não atender as exigências terá bloqueado
o acesso aos recursos
obtidos com as multas e aos repasses do SUS. “Enquanto não
apresentar os números não terá acesso aos recursos. A punição é uma
maneira de obrigar oente
público a assumir a missão de reduzir os acidentes”,
afirmou.