O registro dos casos de violência por homofobia atendidos na
rede pública de saúde será obrigatório. A estratégia será posta em
prática em agosto em Goiás, Minas e Rio Grande do Sul. Em janeiro,
passará a valer em todo o País, de acordo com o Ministério da
Saúde. A medida foi anunciada após a divulgação do Relatório sobre
Violência Homofóbica, que mostra que o número de vítimas triplicou
no ano passado.
O profissional, ao atender a vítima de homofobia, terá de
preencher um formulário que será encaminhado para o governo. Na
avaliação do ministério, isso poderá trazer maior clareza sobre a
exata dimensão do problema no País e para formulação de políticas
de enfrentamento às violências contra homossexuais.
O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) já
registra os atendimentos de violência contra mulheres, idosos,
crianças e adolescentes. O Sinan fornece ainda subsídios que
permitem explicar causas, além de indicar riscos aos quais as
pessoas estão sujeitas, contribuindo assim para a identificação da
realidade epidemiológica de determinada área.
Para a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da
Saúde, o enfrentamento à violência requer a ação conjunta de
diversos setores: saúde, segurança pública, justiça, educação,
assistência social. Dessa forma, o Sistema Único de Saúde (SUS)
pode fornecer dados seguros para que sejam formuladas políticas
públicas.
Números
O Relatório sobre Violência Homofóbica mostra que ocorreram
3.084 denúncias e 9.982 violações de direitos humanos relacionadas
à identidade de gênero em 2012. No ano passado, foram 1.159
denúncias de violência e 6.809 violações de direitos. Também houve
crescimento de 183% no registro de vítimas de violência por
homofobia, passando de 1.713 para 4.851.
Como essa é a segunda edição do relatório, a comparação dos
dados é inédita no País. “Este é um instrumento fundamental para o
enfrentamento à violação e promoção de direitos”, destacou o
coordenador-geral de Promoção dos Direitos LGBT, Gustavo
Bernardes.
Em 2012, as denúncias mais comuns foram, pela ordem: violência
psicológica, discriminação e violência física. Ao contrário do que
aconteceu em 2011, quando a maior parte das denúncias (41,9%)
partiu das próprias vítimas, no ano passado, em mais de 71% dos
casos, os denunciantes sequer conheciam as pessoas agredidas.
Pessoas do sexo masculino, entre 15 e 29 anos (61,6%), são as
que mais sofreram alguma forma de violência homofóbica, segundo o
relatório, e 60% dos homens agredidos se declararam gays. O
relatório não discriminou o sexo dos agressores, mas mais da metade
deles conhecia a vítima. O documento teve por base dados do Disque
Direitos Humanos, Central de Atendimento à Mulher e 136 da
Ouvidoria do Ministério da Saúde. Entre as recomendações finais
estão a criminalização da homofobia e a criação de um canal de
denúncias específico para travestis e transexuais.