Vitrine do governo na saúde, o programa de monitoramento
dos planos privados é investigado pelo Ministério Público Federal
por suspeita de favorecimento.
A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) é acusada de
poupar a Unimed Rio excluindo o nome da operadora de uma das listas
de empresas suspensas por não cumprirem prazos de atendimento de
consultas.
Antes de ser punida, a própria empresa pediu a suspensão dos
planos, escapando da sanção. No mesmo dia, registrou novos
produtos, autorizados pela agência, com nomes diferentes.
A Folha revelou ontem que as reclamações dos usuários de planos
à ANS podem levar até 12 anos para serem analisadas. O PPS, partido
de oposição, anunciou que pedirá a convocação do presidente da
agência ao Congresso Nacional.
Um dia antes de a ANS fechar a lista dos planos que seriam
punidos, a Unimed Rio pediu à agência a suspensão voluntária de 109
planos, que representam 80% de sua carteira de clientes.
Desses, 34 estavam na lista de planos mal avaliados pelo governo e
que seriam punidos com a suspensão das vendas.
O pedido da suspensão voluntária foi feito às 15h - a duas horas
do fim do expediente na agência do dia 18 de setembro de 2012. A
ANS atendeu a operadora no mesmo dia.
Ao aceitar a suspensão voluntária, a agência excluiu a Unimed
Rio da lista, alegando que não poderia suspender algo que já não
era mais comercializado.
A publicidade dada à punição do governo é considerada pelas
operadoras a maior sanção, pois afeta a credibilidade das
empresas.
Além disso, quando a agência determina a suspensão das vendas, a
operadora só pode retomar a comercialização após comprovar que
regularizou a situação.
As empresas também são multadas em valores que chegam a R$ 100
mil. Tais punições não são aplicadas quando o pedido de suspensão é
voluntário.
Os procuradores querem saber por que quatro operadoras que
também estavam com os planos suspensos tiveram os nomes divulgados,
ao contrário da Unimed Rio.
No mesmo dia em que pediu a suspensão, a Unimed Rio ingressou
com outra demanda na agência. Solicitou o registro de 40 novos
planos --todos com nomes análogos aos que tinham sido
suspensos.
Surgiram o Unimed 2, Unimed Alfa 2, Unimed Alfa 2 Dental, Unimed
Beta 2 Dental, entre outros. A ANS autorizou o registro dos novos
planos no dia seguinte.
No site da agência, informa-se que esse procedimento depende de
várias etapas, com análise e prévia aprovação pelo órgão
técnico.
OUTRO LADO
A Unimed disse que desconhece o procedimento do Ministério
Público do Rio para investigar a razão de ter seu nome excluído da
lista de operadoras punidas.
"Dessa forma, não tem como comentar o assunto", afirmou, por sua
assessoria.
A empresa informou que pediu o registro de novos planos "pela
necessidade de reformulação dos mesmos, adequando a oferta da rede
de prestadores em cada produto e atendendo a demandas dos próprios
clientes."
De acordo com a Unimed Rio, a mudança era estudada há meses pela
cooperativa e o período em que ela ocorreu não tem relação com a
agenda de fiscalização da agência.
A ANS disse que a Unimed Rio solicitou a suspensão de diversos
planos por falta de interesse na comercialização.
Segundo a agência, "é praxe no mercado" pedidos de suspensão
voluntários. "A Unimed Rio, inclusive, assinou em fevereiro um
termo de compromisso com a ANS."
O órgão regulador afirmou que divulga a lista dos planos
suspensos de forma cautelar apenas "para proteção dos
beneficiários."