Pesquisadores latino-americanos sugerem que a doença
pneumocócica hoje deve ser vista como uma ameaça importante também
aos adultos, na medida em que os países têm imunizado cada vez mais
crianças. Os especialistas apelam para um aumento no monitoramento
da doença e mais vigilância para entenderem toda a extensão da
doença pneumocócica nas Américas e para elaborar estratégias
efetivas de prevenção, como o uso de vacinas.
A pesquisa, apresentada na terça-feira (5), foi coordenada pelo
Instituto Sabin de Vacinas, em parceria com a Organização
Pan-Americana de Saúde (Paho), o Centro Internacional de Acesso a
Vacinas da Universidade Johns Hopkins e com o Centro de Controle e
Prevenção de Doenças dos EUA (CDC).
Os estudos recentes que estão disponíveis no contexto da América
Latina e do Caribe indicam que o custo da doença é uma carga
econômica importante e significativa, sugerindo que o aumento no
uso das vacinas pneumocócicas em adultos poderia ser efetivo em
relação aos custos", afirma Fernando de la Hoz, membro da Faculdade
de Medicina da Universidade Nacional da Colômbia e autor principal
do estudo.
É necessário pesquisa adicional para que os responsáveis pela
saúde entendam completamente o impacto potencial da imunização de
populações mais velhas na América Latina e no Caribe. Agora sabemos
que a vacina está salvando as vidas de milhares dos cidadãos mais
novos da nossa região. A questão é se deveríamos também estar
protegendo seus pais e avós", acrescenta.
O estudo descobriu que os custos médicos diretos para tratar a
pneumonia causada por bactéria variavam de US$ 993 a US$ 3.535 por
pessoa e o custo do tratamento da meningite bacteriana chegava a
US$ 4.490 para pessoas mais velhas. A análise de custos concluiu
que estas doenças representam cargas consideráveis em cinco países
estudados: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Uruguai.
A doença pneumocócica, que causa pneumonia, infecção no sangue,
inflamação cerebral e infecções no ouvido, mata meio milhão de
crianças a cada ano em todo o mundo – ou uma criança a cada minuto.
Graças a vacinas novas e melhoradas, a doença pneumocócica entre
crianças jovens está caindo drasticamente.
Adultos e idosos
Desde que as vacinas pneumocócicas conjugadas para a infância
foram introduzidas na América Latina em 2003, a doença está
declinando entre as crianças que são vacinadas e a carga da doença
pode agora estar na população mais velha. Os adultos e os idosos
por toda a América Latina que também são vítimas desta doença de
ação rápida, não estão recebendo vacinas, e relativamente pouco é
conhecido sobre o número de mortes relacionadas com a doença
pneumocócica nestes grupos etários.
Reconhecendo o perigo de alguns tipos da doença pneumocócica, os
pesquisadores descobriram que as taxas de mortalidade podem ser tão
altas quanto 35% nos estudos feitos na Argentina, Brasil, Chile e
Uruguai. Para a meningite pneumocócica, os estudos em sete países
revelaram que o percentual de pessoas que morreram após a infecção
variou entre 9 e 58%.
"Na medida em que as pessoas vivem mais, um número maior delas
correrá o risco de contrair esta doença altamente contagiosa e
dispendiosa", diz Carla Domingues, do Ministério da Saúde. "Os
dados analisados durante este estudo sugerem que a doença
pneumocócica é um problema importante entre os adultos, causando
doença e mortes por pneumonia, sepse e meningite".
Uma das principais descobertas do estudo é a insuficiência de
monitoramento e vigilância. "A quantificação da carga da doença
para pessoas de 5 anos de idade e mais velhas, na região da América
Latina e Caribe, é importante porque as vacinas pneumocócicas
conjugadas (VPC) estão cada vez mais sendo introduzidas nos
programas de rotina de imunização infantil e é esperado que elas
reduzam bastante a carga da doença pneumocócica entre as crianças
mais novas. Desta forma, a prevenção da doença pneumocócica entre
outros grupos de alto risco, tais como os idosos e os
imunocomprometidos, se tornará cada vez mais importante", afirma
Lucia Helena de Oliveira, Consultora Regional do Projeto Global de
Imunização Familiar da Organização Pan-Americana de Saúde.
Custos
Os especialistas examinaram o custo da doença pneumocócica em
pessoas mais velhas em cinco países: Argentina, Brasil, Chile,
Colômbia e Uruguai. Eles descobriram que nestes países, a doença
pneumocócica invasiva (DPI) incorre custos consideráveis nos
sistemas de saúde – gerando até US$ 4.490 por caso. Os
pesquisadores também descobriram que o total dos custos de cuidados
com a saúde, nos países estudados variaram de US$ 0,94 milhão a US$
14,1 milhões, com os custos mais altos incorridos pelos idosos,
devido ao maior nível de recursos usados no seu tratamento. No
total, o gasto com os cuidados com a saúde, como PIB per capita
para a DPI, entre as pessoas com mais de 5 anos de idade na região
foi estimado em 0,1% comparado com 8 a 10% do PIB gasto no total
dos cuidados com a saúde.
Os autores do estudo fazem um apelo para os elaboradores de
políticas para priorizarem a doença pneumocócica em adultos em suas
agendas sobre a saúde pública, desta forma os profissionais dos
serviços de saúde irão dedicar mais recursos para detectar e
reportar as ocorrências da doença e para encontrar maneiras de
combatê-la.