Por meio da XP Seguridade, o grupo
financeiro vai “atacar” um mercado que movimentou R$ 220 bilhões no
ano passado. Conheça a estratégia da empresa para vender planos a
pequenas e médias empresas
Em
abril de 2019, a XP Inc. criou a XP Seguridade com o objetivo de
ganhar mercado em previdência e seguro de vida. Em pouco mais de
dois anos, atingiu R$ 25 bilhões sob custódia. Em março deste ano,
a empresa lançou cartão de crédito e, só no último trimestre,
movimentou R$ 2,1 bilhões. Agora, a companhia mira seu canhão para
uma nova área: o mercado de saúde e benefícios.
O
grupo vai iniciar a venda de seguro saúde e odontológico a partir
do último trimestre deste ano. “Tem uma oportunidade muito grande
de crescimento. É um mercado que movimentou R$ 220 bilhões no ano
passado”, diz Roberto Teixeira, sócio e head da XP Seguridade, com
exclusividade ao NeoFeed.
A
ideia é criar um marketplace com produtos de várias operadoras e
seguradoras e disponibilizar no ecossistema do grupo XP. Entre as
empresas que deverão ofertar seus produtos nesse ambiente estão
SulAmérica, Unimed, Amil, NotreDame Intermédica, entre outras.
Inicialmente, serão dez empresas plugadas, mas esse número deve
aumentar ao longo do tempo.
Os
executivos da XP evitam dar detalhes de quanto pretendem abocanhar
desse mercado, mas as ambições são enormes. “Nascemos com um
potencial muito grande”, diz Teixeira. Principalmente porque a
companhia está de olho na sua base de clientes PJ e na capilaridade
de sua rede de agentes autônomos.
No
total, são 40 mil empresas com as quais o grupo tem algum tipo de
relacionamento e pode vender os planos de saúde e odontológicos. O
foco será, principalmente, nas pequenas e médias – as que, segundo
os sócios da XP, são mal atendidas pelas empresas do mercado.
A rede de agentes, formada por mais
de 700 escritórios espalhados pelo País, dará suporte para “atacar”
esses clientes. “Todo escritório ligado a XP tem um responsável por
seguro”, diz Henrique Pocai, head de serviços financeiros e novos
negócios da XP Seguridade.
A entrada da XP nesse segmento
acontece por meio de uma parceria com a BTR, uma corretora
recém-criada pelo empresário Bruno Autran. Antes de fundar a BTR,
Autran foi dono da corretora TBI, vendida no ano passado para a o
Grupo Case, agora nas mãos da Dasa.
Ele conheceu os sócios da XP
vendendo seguro saúde para a companhia oferecer aos funcionários.
“Ao longo do tempo, fui provocando a XP sobre as oportunidades de
entrar nesse mercado”, diz Autran. Acabou dando certo. A XP fará um
investimento na empresa, sobretudo em tecnologia e na contratação
de pessoas.
“Temos uma call de compra em 12
meses. Se alavancarmos o business como imaginamos, compraremos 100%
da BTR. É como se fosse uma insurtech, um seed
money que estamos colocando”, diz Pocai. Será criado
um squad com sete pessoas, mais 15 serão
contratadas e a XP vai criar um amplo programa de treinamento para
a sua rede.
Os pontos que a XP Seguridade
pretende cobrir são fundamentais para o êxito no setor. De acordo
com o estudo World Insurance Report 2021, da consultoria Capgemini
em parceria com a EFMA, é preciso cada vez mais combinar o
atendimento pessoal com o digital.
“O
mercado de seguros é menos maduro que o bancário”, diz Roberto
Ciccone, vice-presidente de financial services da Capgemini Brasil.
“Hoje, você não pensa em um aplicativo que resolva rápido as
questões dos clientes. Às vezes, tem de responder mais de 40
questões e ainda preencher papel”, afirma.
No
novo mundo, no qual as barreiras foram caindo e empresas de outros
setores foram entrando em novas áreas, não cabe mais esse tipo de
atuação. “O cliente hoje compara a experiência a uma compra na
Amazon, ao app de um banco digital, quer resolver em poucos
cliques”, afirma Ciccone.
Vai
ganhar a competição quem conseguir simplificar esse mercado. Autran
afirma que a BTR e a XP vão investir muito em tecnologia para
facilitar os processos para as equipes de RH das empresas e para o
usuário. Mas não basta apenas um bom aplicativo, é necessário ainda
o atendimento humano.
“O
cliente ainda busca aconselhamento”, diz Ciccone. “Hoje em dia, não
se fala sobre desintermediação, mas sim de ‘digintermediação’ do
corretor”, afirma ele, sobre a importância do trabalho do vendedor
de seguro aliado as ferramentas digitais. “Na hora de comprar, o
cliente ainda quer falar com alguém.”
Diferentemente das competições entre bancos e fintechs e até mesmo
entre plataformas de investimentos e bancos, a briga no mercado de
seguro tem outros contornos. Uma pessoa pode ter várias contas
digitais, mas, dificilmente, tem vários planos de saúde ou vários
seguros de vida. É, portanto, um jogo de rouba monte. “É uma
disputa no mar vermelho, uma disputa de sangue”, diz Ciccone.
Além
das grandes corretoras, a XP Seguridade vai encontrar nesse mar uma
série de novas empresas que têm o digital como seus maiores
trunfos. A Pipo Saúde, que recentemente recebeu um aporte de R$ 100
milhões liderado pela Thrive Capital, é uma delas. Outro player que
tem um grande grupo por trás e também olha para as pequenas e
médias é a Vitta, que pertence à Stone.